A criação da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro inspirava-se no modelo da Sociedade de Geografia de Paris, estabelecida desde 1821. Da mesma maneira, adotando o modelo francês, várias associações congêneres foram criadas no continente americano ao longo do século XIX, dentre as quais: a Sociedad Mexicana de Geografia y Estadistica, criada em 1833, a American Geographical Society em 1852, de Nova York e a Société de Géographie de Québec, em 1877. Tais entidades possuíam características em comum: pretendiam divulgar o conhecimento científico, por meio de intercâmbio de publicações, da participação em congressos, das trocas de correspondências com entidades similares estrangeiras, principalmente européias. Porém, os seus objetivos se direcionavam para a organização de seus espaços nacionais. Conseqüentemente, as sociedades geográficas tornavam-se instrumento específico a serviço do Estado, pois as informações levantadas auxiliavam, sobretudo, no reconhecimento do território.
No caso brasileiro salientavam-se o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) fundado em 1838 e a Seção Filial da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil estabelecida em 1878. Os fundadores da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro justificavam a criação do novo ambiente acadêmico, argumentando que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro privilegiava em especial os domínios da história. Já a Seção Filial da Sociedade de Geografia de Lisboa seria apenas o braço avançado da agremiação portuguesa do lado de cá do Atlântico.
De acordo com os estatutos da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a instituição possuía como objetivos principais: o estudo, a discussão, investigações e explorações científicas da geografia nos seus diferentes ramos, princípios, relações, descobertas, progressos e aplicações; e com especialidade o estudo e conhecimento dos fatos e documentos concernentes à geografia do Brasil. A partir de 1885, a Sociedade contribuiu para a divulgação do conhecimento com a publicação de seu periódico: Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
Foram admitidas na Sociedade de Geografia diversas personalidades que transitavam no cenário político imperial, tais como João Lustosa da Cunha Paranaguá, o Marquês de Paranaguá. Circulavam, também, pelas salas do grêmio indivíduos filiados a outras instituições científicas, a exemplo do Club de Engenharia, da Escola Politécnica, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Museu Nacional e do Observatório Nacional. A título de exemplo, dentre outros, destacavam-se: André Gustavo Paulo de Frontin, Antônio de Paula Freitas, Luiz Antonio von Hoonhltz, o Barão de Teffé, Luiz Cruls, Orville Derby, Ladislau de Souza Netto, Henrique Morize e Manuel Francisco Correia.
Dentre as principais atividades realizadas pela Sociedade destacam-se: o transporte do meteorito de Bendegó em 1887, da Bahia para o Museu Nacional, sob a orientação dos sócios, os engenheiros José Carlos de Carvalho, Humberto Antunes e Vicente José de Carvalho; a exploração de Mato Grosso por uma comissão chefiada por Antonio Lourenço Telles Pires em 1888; a primeira Exposição de Geografia Sul-Americana realizada em 1889 na Escola Politécnica e a participação na organização da Terceira Reunião do Congresso Latino Americano em 1905 e a realização dos Congressos Brasileiros de Geografia.
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro Congressos Brasileiros de Geografia
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Local:
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Ano:
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1o. congresso
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Rio de Janeiro
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1909
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2o. congresso
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São Paulo
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1910
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3o. congresso
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Curitiba
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1911
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4o. congresso
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Recife
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1915
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5o. congresso
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Salvador
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1916
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6o. congresso
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Belo Horizonte
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1919
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7o. congresso
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Paraíba
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1922
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8o. congresso
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Vitória
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1926
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9o. congresso
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Florianópolis
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1940
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10o. congresso
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Rio de Janeiro
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1944
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Entre os anos de 1926 e 1927, a Sociedade instituiu o Curso Superior Livre de Geografia(5) destinado à atualização dos professores de ensino primário. A comissão pedagógica constituía-se de três vultos mais tarde considerados como os grandes renovadores do ensino da geografia, Everardo Backheuser, professor da Escola Politécnica, Fernando Raja Gabaglia e Delgado de Carvalho, ambos professores do Colégio Pedro II. A proposta consistia em conferir no final de dois semestres o diploma de "Laureado em Geografia e Ciências Correlatas".
A Sociedade também concorreu o movimento de comemoração em torno do Centenário da Independência do Brasil em 1922. Na ocasião em que se revia a história nacional e se buscava construir novos projetos para o futuro da nação, o grêmio preparou a obra Geografia do Brasil, comemorativa do Centenário da Independência. A iniciativa partira de Lindolpho Xavier, em 1918, primeiro secretário e redator da Revista. Para a consecução da tarefa foi criada uma comissão da qual faziam parte: o Marechal Thaumaturgo de Azevedo, Francisco Jaguaribe Mattos, Antônio dos Santos Pires, Everardo Backheuser e Francisco Bhering.
Diversos cientistas e exploradores estrangeiros e nacionais proferiram conferências nas salas da Sociedade, tais como: o geógrafo francês Élisée Réclus, o naturalista alemão Carl von den Steinen, o professor de etnologia da Universidade de Gênova, Giovanni Rossi e o explorador e oceanógrafo francês Jean Charcot. Do Brasil, participaram: Barão Homem de Mello, Antonio de Paula Freitas, Barão de Teffé, José de Carvalho, Paulo de Frontin, Francisco Antonio Pimenta Bueno, Francisco Maurício Draenert, Lourenço Baeta Neves, Henrique Silva, José Arthur Boiteux e o General Candido Mariano da Silva Rondon, eleito Presidente Honorário da Sociedade.
Em 1945, a Sociedade passou por uma ampla reformulação de seus estatutos durante a gestão do embaixador Macedo Soares. Previa-se a descentralização da instituição com o estabelecimento de filiais nos Estados brasileiros e a mudança do nome de Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro para Sociedade Brasileira de Geografia. Não é demais destacar as experiências desenvolvidas por Macedo Soares na presidência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, além de sua estreita relação com as esferas do poder(6) . A gestão de Macedo Soares, reconhecida como um "movimento renovador", pode ser considerada um marco para a história da Sociedade.
Ainda em 1945, publicou-se um tomo da Revista em comemoração do centenário de nascimento do Barão do Rio Branco. Para a homenagem, foram escolhidos trabalhos que contemplavam os casos mais complexos da história da diplomacia brasileira solucionados pelo Barão, tais como os conflitos com a Guiana Britânica, as questões do Acre, de Palmas e do Amapá(7) .
Lista de Presidentes da Sociedade Brasileira de Geografia (1883 a 1948):
1883-1912: José Lustosa da Cunha Paranaguá, Marquês de Paranaguá 1912-1914: Francisco Inácio Marcondes Homem de Mello, o Barão de Homem de Mello 1914-1920: Marechal Gregório Thaumturgo de Azevedo 1920-1925: Almirante Antônio Coutinho Gomes de Pereira 1925-1940: General José Moreira de Guimarães 1940-1945: Almirante Raul Tavares 1945-1948: Embaixador José Carlos de Macedo Soares
____________________________________________ (1)RSGRJ, Ata da Sessão de Fundação da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. nº 1, t.1, p.178, 1885. (2)HERMES, Fonseca J.S. "Como foi fundada a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro". Rio de Janeiro: )IBGE, Revista Brasileira de Geografia, 1946. (3)FIGUEIROA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: HUCITEC, 1997. p.104 (4)Cf. FONSECA, Maria Rachel F. da. "As conferências populares da Glória: a divulgação do saber científico" In: Rio de Janeiro: Revista Manguinhos: História, Ciências e Saúde, Ed. Fiocruz, v.2 nº.3 nov.1995 fev.1996. (5)Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, 1926-27. P.239 (6)José Carlos Macedo Soares destacou-se como advogado, industrial, professor, político, diplomata e ensaísta. Como político, foi eleito deputado à Assembléia Nacional Constituinte em 1933. No ano posterior foi nomeado ministro das Relações Exteriores no governo constitucional do presidente Getúlio Vargas, deixando a pasta em 2 de janeiro de 1937. Em julho de 37, foi nomeado ministro da Justiça, ocupando o cargo até 9 de novembro de 1937. Também foi responsável pela instalação do IBGE e foi o primeiro presidente. Lecionou nos cursos superiores das Universidades do Brasil e do Rio de Janeiro. (7)Everardo Backeheuser ressaltou o papel do Barão do Rio Branco como geógrafo e geopolítico. Também deixaram suas contribuições: Macedo Soares, João Severiano Fonseca Hermes, Hermes Rodrigues da Fonseca Filho, Luís Felipe Castilhos Goycochea, entre outras personalidades.
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